eu sou mariatha!


escrevo para o vento, para a nuvens sem destino
escrevo palavras-água, dissolvendo o tempo
escrevo o amor nas asas dos pássaros,
na sinfonia das cigarras, dos grilos, das rãs;
nas flores que dançam livres nos campos
ou à beira dos caminhos

quando não penso danço como essas flores
em movimentos simples, doces, imprevisíveis.
abro os braços e digo baixinho: "sou uma flor"
e logo tudo se transforma ao meu redor
e dentro de mim.

finalmente, dos meus pés nascem raízes que
perfuram a terra e se alongam, multiplicam, aprofundam
até ao coração da mãe

* helena isabel, com a ponta dos dedos a arder




Sabes, boneca de sal, o mar já não está assim tão longe. Descansa um pouco; os teus pés estão feridos, as tuas pernas cansadas, os teus olhos tristes, a tua pele, os teus órgãos, as tuas células a pedirem amor. Adormece por uns instantes e volta a sonhar com a tua criança a flutuar ao cimo das cidades, dos montes, das nuvens ou a descobrir papagaios de papel no terraço dos vizinhos. Permite-te sorrir com aquela doçura feita de mel e de silêncios. Olha á tua volta logo que sintas coragem e abraça em pensamento todos aqueles que ainda não chegaram onde estás. Eles estão mesmo atrás de ti, a percorrem o caminho, alguns ainda sem consciência, outros com entusiasmo, outros em competição. Abraça-os com compreensão, ternura, compaixão pelos pés que ainda não rasgaram, as pernas que ainda não doeram. Agora, tu sentes que não há como regressar e que no teu rosto sopra uma brisa que já cheira a mar. Está quase! E, sim, muitos já te esperam no lugar onde as bonecas de sal se dissolvem e percebem que, afinal, sempre foram o oceano.

helena isabel, com a ponta dos dedos a arder



31.03.2011



"quando o julgamento é lúcido, as dúvidas desaparecem. a delicadeza e a persuasão podem ser armas poderosas contra a força bruta. você precisa mudar para reagir diante da dificuldade, mesmo que no início cometa alguns erros. a passividade prejudica a solução. não deixe de agir quando for necessário"

quando saboreamos a leveza, pensamos: "a partir de hoje o caminho será dourado". imaginamos os nossos dias com direito a tudo o que sempre sonhámos. a mente está adormecida, o coração tem a subtileza das asas de um anjo. olhamos para dentro e descobrimos que nunca deixámos de ser crianças. ficamos coloridos como um arco-íris, fazendo a ponte entre o céu e a terra. temos vontade de abraçar a humanidade e logo a seguir o todo. sentimo-nos como cristais a sair da caverna.

nesses momentos, perdoamos quem nos derrubou, da mesma forma que perdoámos, noutros tempos, o colega da escola que nos passou uma rasteira. procuramos mais profundo em nós e descobrimos que também somos capazes de nos perdoar.

eu sou mariatha!



21.03.2011



nunca assisti a um dia de início de primavera tão bonito como o de 2011. a manhã apresentou-se cristalina, com um imenso céu azul e um sol dourado a iluminar as paisagens, as casas, as pessoas, os animais, a vegetação e as flores que já desabrocharam.

no parque da liberdade caminhámos em partilha, entre a vegetação. primeiro, subimos para contemplar todo aquele verde e abrir os pulmões à vida. "olha aquelas flores liláses", "e aquelas... e aquelas...". fomos tão bem recebidos no parque da liberdade!

uma fonte a jorrar água cristalina e os passaritos nos galhos da árvores foram a nossa música para a meditação do arco-íris. a energia era tão forte que me descalcei para sentir a terra e ancorar. nesta meditação viajei sobre uma nuvem branca, leve como o algodão, até uma paisagem de pirâmides e areia douradas. quando dei conta, estava a sobrevoar uma espécie de vulcão de onde saia uma intensa luz branca brilhante. foi uma imagem tão forte que fiquei sem reacção, apenas a contemplar toda aquela luz.

toda a alegria que sentimos abriu-nos o apetite para o mar. viajámos até lá e fomos recebidos pelo azul do céu, por um mar serpenteado de violeta e verde-esmeralda e pelo dourado da areia e do sol. aqui permanecemos toda a tarde, num cantinho resguardado da praia, por onde acessámos atravessando uma corrente de água doce e pulando de pedra em pedra.

neste bocadinho em que não sentimos o tempo passar, deixá-mo-nos envolver por toda aquela energia azul e dourada. umas vezes, partilhámos experiências, outras silêncio. outras ainda, de forma espontânea e imprevista, mimava-mo-nos uns aos outros: com chi kung, mensagens, poesia, exercícios naturais para os olhos, cristais e sorrisos tranquilos.

quando atravessámos o riacho, fomos saudados por peixinhos, gaivotas e um bando de patos que sobrevoou sobre nós. 

despedi-mo-nos ao fim da tarde com o coração a transbordar de amor, um brilhozinho nos olhos e muita paz.

grata a todos nós por acreditarmos que é possível!

grata! grata! grata!

eu sou mariatha




02.03.2011


algures no espaço etéreo existe um templo de cristal, envolvido num azul aurora. quando viajo até ele, espera-me um anjo de grandes asas que se prolongam além da sua cabeça dourada. sorri-mo-nos, ao mesmo tempo que sinto a leveza das suas mãos. neste lugar reina a tranquilidade do cristal e do azul-amanhecer.

eu e o anjo caminhamos em direcção a umas escadas, com a serenidade de quem navega num rio de águas cristalinas, a contemplar um céu estrelado e   a despedida da lua.

subimos as escadas ligados pelo coração. falamos baixinho, tão baixinho que só escutamos silêncio e compreensão. no topo, entre colunas magestosas, aguardam-nos figuras transparentes, visíveis aos olhos de quem ama. a luz revela-se quando despertamos para uma alegria desprendida. simplesmente, deixamo-nos ser.

estendo os braços para cada um desses seres e percebo que no momento em que nos entregamos a um abraço perdemos a noção do tempo e do espaço e rende-mo-nos à reunificação.

é por isso que, frequentemente, viajo até ao templo cristal e azul-amanhecer. tomo balanço num trampolim dourado, que descobri no meio de um campo de malmequeres. começo por brincar com a brisa, que me embala e depois me faz rodopiar no ar.  quando tento alcançar os pássaros, o sol, as estrelas-meninas, é quando que me deixo levar até ao silêncio e à quietude.

eu sou mariatha!




a todos os anjos que participaram no I workshop de cristais, de 08.01.2011


quando nos encontrámos éramos esperança
olhávamos curiosos para aqueles a que chamávamos 
desconhecidos
ás vezes crescíamos, outras vezes mingávamos
no tempo certo, acertávamos as medidas
para depois nos expandirmos para além delas

primeiro uma quase-roda
depois um túnel com paredes feitas de anjos, 
de braços e corações quentes

(abençoados somos!)

nas raízes, a terra húmida, verde, perfumada de sintra
ao cimo da nossa coroa, um universo generoso
e infinito

o dia é cristalino
e eu sei-o dourado!

eu sou mariatha!