terça-feira, 20 de setembro de 2011

boneca de sal



Sabes, boneca de sal, o mar já não está assim tão longe. Descansa um pouco; os teus pés estão feridos, as tuas pernas cansadas, os teus olhos tristes, a tua pele, os teus órgãos, as tuas células a pedirem amor. Adormece por uns instantes e volta a sonhar com a tua criança a flutuar ao cimo das cidades, dos montes, das nuvens ou a descobrir papagaios de papel no terraço dos vizinhos. Permite-te sorrir com aquela doçura feita de mel e de silêncios. Olha á tua volta logo que sintas coragem e abraça em pensamento todos aqueles que ainda não chegaram onde estás. Eles estão mesmo atrás de ti, a percorrem o caminho, alguns ainda sem consciência, outros com entusiasmo, outros em competição. Abraça-os com compreensão, ternura, compaixão pelos pés que ainda não rasgaram, as pernas que ainda não doeram. Agora, tu sentes que não há como regressar e que no teu rosto sopra uma brisa que já cheira a mar. Está quase! E, sim, muitos já te esperam no lugar onde as bonecas de sal se dissolvem e percebem que, afinal, sempre foram o oceano.


helena isabel, com a ponta dos dedos a arder

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