quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Arqueiro Zen



No silêncio do ser, na expressão terna desse momento que tudo pacifica quando aprendemos a não resistir à Vida, mas através desta fluir com o tempo e com o espaço, deixando que seja Ela a viver em nós, tudo regressa à nota primordial da nossa encarnação, e não mais será necessário lutar, impor, procurar, pois ali, no momento presente onde nada falta, o Universo tudo fará para nos nutrir com a sua manifestação de Abundância, Harmonia e PAZ.

Tal como o arqueiro Zen que, no esticar do arco sem forçar os seus músculos, mantém essa tensão até que algo dispare a flecha sem que este se preocupe com o alvo nem com o tempo certo de soltar a corda, pois é a Vida que conduzirá essa seta aonde ela tiver que chegar e que determinará o momento exacto disso acontecer, também nós teremos que chegar um dia a esse momento de silenciar toda a nossa expressão, vivendo tudo sem tensão, sem um alvo e sem um tempo determinado por nós, e aí a Alma, liberta do ruído e da vontade dos corpos, se manifestará com toda a sua potência e nos consagrará a essa Vida que somos em essência e que aguarda da nossa parte a entrega e a rendição integral ao Pai. 

Quando o tiro do arco é disparado com o Coração, a realização da Vontade Maior se plenificará naquele momento que ecoará pela eternidade, mesmo que a seta fique a meio caminho, pois nos gestos do arqueiro, na postura e no soltar da flecha em sintonia com a Vida, algo de profundamente curador acontecerá, tanto para o arqueiro quanto para quem o observa. 

Saber reverenciar esse tiro, mesmo que o alvo não seja atingido, pois este na verdade é interno e não externo, é perceber que tudo se manifesta como realidade apenas dentro de nós, e é a partir dessa constatação que a nossa vida mudará radicalmente e passaremos a ser instrumentos do Plano Evolutivo como expressão do verdadeiro Serviço. 

Temos apenas como realização do Serviço o Coração. Sem a abertura desse portal, o único que nos compete abrir, pois os outros são assunto da Hierarquia, nada poderemos realizar que seja a expressão real da Vida que pulsa dentro de nós e que aguarda da nossa parte um profundo e sentido SIM, para que se manifeste plenamente num mundo tão carente de Amor.  Sem essa abertura, sem esse pulsar que vem do centro da nossa Alma, nada poderemos fazer que seja verdadeiramente real, mesmo que muito possamos construir dentro do mundo formal, pois essa realização não terá sido ungida e consagrada pela VIDA. 

Respirar os aromas dessa Vida nesse fluir tépido que tudo silencia, deixando que Esta nos conduza tal como folha solta na corrente de um rio, é largar a espada, despir a armadura, e nus de tudo o que é civilizacional dizer: “ Pai, seja feita a tua Vontade, pois nada se sustém para além desta”. 

Tornar-nos-emos então seres em plena sintonia com o Pai, entregues nos braços da Mãe Divina e a Esta consagrados pelo Amor do Filho que pulsará através de cada átomo do nosso corpo. E então deixaremos de falar e de escrever sobre as coisas que conhecemos como se nestas estivesse alguma realidade que se sustente por si só,  para passarmos a ser Um com Cristo na radiação do Amor Pleno, e com esse Amor qualificando esse falar e esse escrever com a realidade do Coração. 

E só quem se encontrar dentro desta manifestação, é que se poderá dizer filho da Nova Terra que desperta.


PAX,
Pedro Elias, escritor português

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